“Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! Enxerguei os confins do rio,
do outro lado. Longe, longe, com que prazo se ir até lá? Medo e
vergonha. (...) Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando,
e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar (...) E o canoeiro me contradisse:
‘– Esta é das que afundam inteira. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d’óleo não sobrenadam...’
Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto boas
canoas boiantes (...) e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse
crime, fabricar dessas, de madeira burra!”
Grande Sertão: Veredas - J. Guimarães Rosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário